Mulher e homem de pouca fé
A deputada do PSD Maria Elisa, no seu diário de domingo no DN, descobriu um dos problemas da desburocratização: numa repartição de finanças, para a qual telefonou, ninguém atende o telefone porque, como constatou quando lá se dirigiu "on foot", acabaram com os telefonistas. A explicação é que não são necessários telefonistas porque qualquer funcionário pode atender o telefone!
É claro que o resultado só podia ser este - se "qualquer" funcionário pode, nenhum o fará. Se quem tomou a medida percebesse alguma coisa de burocracia, isto não teria acontecido, pois uma das grandes vantagens da burocracia é a definição clara de responsabilidades.
No fundo, como este exemplo mostra, muitos dos males da nossa AP derivam da falta e não do excesso de burocracia.
Mas Maria Elisa descobriu mais coisas. Descobriu que os funcionários eram diligentes e interessados (o facto de ela ser a Maria Elisa da televisão e do PSD não terá tido influência no comportamento dos funcionários?) mas demoraram a resolver-lhe o problema porque parte dos serviços ainda não estavam informatizados. Pergunto eu, há quantos anos estão as finanças a ser informatizadas? Quantos anos faltam para estarem completamente informatizadas?
Depois desta experiência e já um pouco descrente que as receitas do seu PM resolvam os problemas da AP, Maria Elisa conclui com esta reflexão lapidar:
Espero que os responsáveis pela reforma da administração pública, nas diferentes áreas, conheçam experiências de gestão que, de facto, aligeirem o peso da despesa pública mas, simultaneamente, beneficiem os utentes.
No editorial do DN, também António R Ferreira se começa a questionar sobre o sucesso da R da AP. Diz ele:
Para além de bonitas palavras e excelentes intenções, este Governo tem uma oportunidade única para mexer em áreas que por norma são incompatíveis com a lógica perversa dos votos e das vitórias eleitorais. É o caso da administração pública. Depois da pompa e da circunstância do anúncio da reforma e de algumas promessas de como será organizado o Estado num futuro próximo, nada mais se viu de concreto. É verdade que a pressa nem sempre é boa conselheira. Mas o que se passou no Código do Trabalho e no combate à evasão fiscal são razões mais do que suficientes para se temer que a reforma das reformas acabe numa qualquer gaveta das Finanças.
Bom, ó António RF, o prof. Deus Pinheiro ainda nem sequer tomou posse. Ao menos, dê-lhe um período de graça.
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